4.6.06

A desculpa foi meu desespero,
estirado sobre as cobertas
naquela manhã fria que custou a passar.
A geladeira vazia te deixou
com ânsia. Você não conseguiu
entender como havia terminado a note aqui.
Sobre meus olhos enclausurados você foi,
sob a luz confusa do amanhecer,
elétrica e virgem de outro dia sujo.
Seus ouvidos ainda doiam
do repetido soar dos tambores,
do vestido colado, da parede
gelada e do meu beijo.
Você queria aquele dia como
o pão grátis da sopa rala
que você carrega agora.


E tarde demais, veio uma grande calmaria,
como se seus dedos
tivessem apagado cada uma
das suas feridas. Você percebeu,
enfim,
que já não havia ninguém a ser pedido.
Todos mortos neste campo cinzento,
povoado de lança-chamas e minas.
Resta você, rodeada
destes seus amigos de rapina,
pensando, séria,
em qual música tocar depois.

Naquela manhã fria que custou a passar,
na parede trincada da minha lavanderia surgiu uma folha.
Sobre minhas cobertas
me agarrei a ela como a uma filha que retorna
enfim, de sua espera.

Você morreu sorrindo para aquela navalha
no seu vestido colado, ao som dos tambores
naquela parede fria.

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