31.7.08

Fiz a primeira coisa certa em meses,
e já sinto como se daqui para frente
nenhuma coisa certa vá doer menos.
A cada ano é um centimetro a menos
da cidade mais linda que eu já vi.
E em três dias foi como se eu tivesse afundado metros e metros.
Apaguei cada pegada,
ignorei todas as pessoas certas,
troquei minhas roupas,
meu cabelo e a minha língua.

E tudo isso para me lembrar que você achava lindo quando eu falava italiano.
Houve um tempo em que agora mesmo estariamos lavando a roupa suja,
milhares de ofensas escondendo o que todo mundo sabia.
Acho que matei tudo, afinal de contas.
Me disseram que essa água é imunda,
mas enquanto o Sol finalmente se afoga,
deixando para trás um calor que me faz entender o número de igrejas,
é essa água que quer me levar para casa.
ponte,ponte,ponte,ponte,ponte.
Sempre achei que perdicao fosse outra coisa
que nao um monte de ruas lindas
e sem nome.

26.7.08

O sol tem demorado dias para ir.

Achei que nunca mais ia te ver.

25.7.08

Faz uma eternidade que nao me vejo assim,
tao perdido entre acentos e perdicao e ausência de acentos.

Faz uma eternidade.

E nao sao nem seis meses.
Fez tanto sentido, tantotanto
ver as nuvens se fechando sobre nós
e o mundo todo caindo,
como se fossemos os únicos culpados.

As ruas vazias.
Era como se tivessemos uma época do mundo só nossa.

O whisky para mim,
o vinho para você
e o mundo todo fugiu
(se escondendo da chuva quente do leste do fim do mundo).

Só tinhamos sons,
e éramos tao felizes.

Fugimos entre as casas, e as ruas estreitas com acentos nos ts
escondidos entre versos imensos de esquecimento,
como se a ausência bastasse e o mundo todo tivesse exausto de nós.

E me engano em cada uma que passa com o mesmo jeito,
como se a chuva fosse uma enorme névoa e a névoa me enganasse.

Você nao volta.

E os sons das trombetas,
todos, umcontrapontocontraoutrocontraponto,
nao sao a sua voz e estao todos do outro lado do rio.
segui rodopiando pela ponte,
que foi ficando cada vez maior enquanto eu caia dentro do rio,
trombando com as pedras.
Eram estátuas enormes
e um cristo que me perdoava por tudo
As catedrais todas,
erguidas contra um mundo todo de sombra
soam óbivas, juntas,
avisando quem ama
a hora de se esquecer.