29.5.06

Ando xingando demais,
e acho isso estúpido.
Há dezenas de formas
de te dizer que te acho
idiota, mas é como
se eu tivesse perdido
todo o controle
sobre minhas ofensas.
Ando me esforçando
para que me odeiem.
Desculpas aos envolvidos,
e vão tomar no cu.

27.5.06

"Nada mais me interessa. Ergue-te,
traz-me vinho! Amiga, esta noite
tua boca amorável é a
mais bela rosa do Universo.

Vinho! Vinho vermelho como
tuas faces! E que os meus remorsos
sejam leves, leves, tão leves
como os cachos dos teus cabelos."
(16, Rubayat, Omar Khayyam)

26.5.06

Não venha me falar
dos seus sentimentos aqui.
Me dá nojo todo o
procedimento seguido.
Tivesse ficado em casa,
longe de mim, remoendo
as dores que você achou
enfiadas no cu e que
diz agora sentir por mim.

O fato é que
você morre de medo
de me olhar nos olhos
porque eles estão secos
e eu tenho os punhos fechados,
como se ao fim
desta sua história ridícula
de amor construído
e de sentimentalismo,
eu fosse arrebentar
a sua cara.

Jamais quebraria estas mãos
que ganhei de meu pai.

Sorrio, agradeço e me ocorre
que seus filhos nunca serão metade
dos filhos de meu pai,
e que você nunca entenderá
o que é uma casa como meu pai.
Da minha fraqueza
descontruo a sua.

Vá para casa,
por favor. Brigue
com seus filhos,
foda sua esposa,
tome sua cerveja,
brinque com seu
vinho vagabundo.

Meu pai me ensinou
a rir de você,
a tomar arak,
a acordar toda madrugada
em busca da respiração leve
de minha mãe, chorando por ele.
Meu pai me ensinou
a odiar sua pretensão
de ser poético.

Volte para casa.
O dia insiste em levantar,
mesmo para mim.

Um dia eu farei o favor
de me ausentar
de seu velório como
você deveria do de meu pai.
Sua família terá os olhos cheios de água,
mas será rápido: você nunca teve competência
para ensinar sobre o inexistente e o sutil.

Você não deixou nada.
*Em off*
Vai se foder.
*sai do off*
Não existe pecado maior,
do que o nojo que tenho sentido
de te ver me olhando.

24.5.06

Entre as freqüências
vou me adicionando e
caindo em desconsolo.
O meu sonho acaba tarde.
Sonhei com você
deixando pelo chão
as suas roupas e
dormindo acordada.
Já os galos cantam
sob esta lua despedaçada
de remissão. Pobre de
mim que não tenho ninguém
por quem estender
minha maré.
Foi escondida
sob uma rocha que
eu te achei desfeita
em pranto e sal.
O céu girava em
grandes mãos de
núvem e nos teus olhos,
refletia o fim do mundo.
Os pinhos se curvavam
sobre nós, escondendo
do ciúme da chuva
tuas lágrimas que faziam
brotar do solo frio
as flores que nunca
mais vi em suas mãos.
Sob minha cama
de luz vespertina
escondi suas memórias,
achei que nada mais
de seu toque viraria
ontem.

Você sempre
será um pouco de ontem.
Sempre nos teus olhos
haverá o fim do mundo
onde eu me perdi.

20.5.06

Passo submerso,
me apaixonando por todas
e cada uma das imagens que pairam sobre as águas.
Cantei um mantra sobre você
que não estava lá.
Entrando no ônibus
me senti patético.
Tenho feito papel de bobo.

13.5.06

Entre os rios
queimei todo o solo
fértil e fugi.
Talvez dê errado,
e se você não voltar,
alguém tomará suas
terras e colocará
sentido nas pedras
que eu deixei,
que você deixou.

Quem sabe ele construa
a cidade que tentamos.
Não consigo falar
das paixões que não existem.
às vezes acho, espero,
que vocês ainda gastem segundos
em mim, se perguntando.
Nenhum de nós se interessa.
Morro de medo de nosso fim
ter sido bom pra você.
Ao mesmo tempo,
se você piorar,
eu vou sentir falta
da sua cabeça.
Você me poupou os 20 anos,
mas todas levam pedaços da vida toda.
As paredes não caíram,
mas e o meu império, pelo
qual lutamos tanto?
Sou ainda mais simples,
mas meus passos andam sem
sentido, minhas regars vazias
e meus rituais inúteis. O tempo
de mudar chegou, mas eu
não saí de ontem.
Eu ainda não me dei conta.
Não acho que me darei conta
por anos, até que chegue
a minha vez de esperar
a tranca se virar no escuro.
Carrego esse peso e,
por mais que eu suspire,
ele nunca vai embora.
Adoro esse seu jeito
de tomar café caro,
olhando para os lados
e querendo tomar cultura.

7.5.06

Quebrei minha última muleta.
Até quando eu vou agüentar?
Nunca te quis assim,
tão perto, cuidando.

6.5.06

Esqueci como se brinca
de ser engraçado pra você.
Não quero saber mais
quem é.
Tenho dito para mim mesmo
que não existo, que
você deixou de existir
ao ir embora de mim.
Mas em algum lugar nós dois acordamos,
e tomamos banho, como sempre,
mas nenhum de nós lembra de nada,
escorremos por entre os dedos.

5.5.06

Esqueci de te contar
que não superei nada.
Tudo continua mudo e me
ocupo com centenas de
músicas para preencher
o silêncio que ficou
para trás.

Esqueço você no
meu suor, como se
você me esfriasse,
deixasse de me contar
tudo, fosse embora e eu pedisse
por favor pra você
trancar a porta.

Ningué sabe o
vento frio que bate
em minhas costas
e queima meus nervos.
Devo saber de centenas
de fatos, de mentiras
que você não me contou,
de todo o mundo que
eu criei pra você
ocupar, tratar e ir.

Você largou tudo,
queimou os livors
que eu havia escrito,
o medo todo de queimar
os dedos, cortar as palmas,
ficar cega e não saber
quem é você, senil
e insuportável
voando com as costas
sangrando, como se
saísse do nada a sua
angústia sanguínea.

Tudo poderia ser melhor.
Eu não estou tão sozinho,
cada noite, em cada corte
eu guardarei um resto de
escolha errada dentro
desta caixa com todos os bilhetes,
dominós viciados, destruindo
o caminho.
Morro de medo
de cruzar com você de olhos turvos,
tropeçando pelos cantos,
pensando em como foi
que eu acabei alí,
na sua frente,
torcendo para você voltar a ser
a mulher que me deixou de olhos quebrados.
Queria pelo menos lembrar do
seu rosto, e não do jeito
que você falava, das suas pernas.
Talvez seu jeito mude,
mas seus olhos
sempre vão me tirar da cama.
Acordei desesperado,
você sem olhos,
eu sem mãos e eles rindo,
rindo e rindo e fazendo piadas.
Meus passos têm andado sem sentido,
o tempo devorando minhas unhas
me deixa com medo de esquecer seu rosto.
Eu não posso me deixar esquecer.

4.5.06

Não sou fácil de machucar,
mas você sempre será
aquele corte aberto que
eu terei de atender.
Fico bem por horas,
então me vem ódio, e dor
e uma tonelada de solidão.
Seu cheiro come meus
pulmões toda vez. Me
apoio em músicas, livros.
Estou desistindo de
gente, como sempre,
fechando portas e
trancando meus pertences.
Você me manteve
aberto estes anos todos,
tiro após tiro.
Voltei achando que
teria centenas de coisas a fazer,
histórias a contar.
Mas não há um sinal sequer,
nunca houve.